Theo Angelopoulos ? um mestre do lirismo comedido. Est? sempre buscando formas de nos dar a textura emocional das inter-rela??es humanas com sua c?mera. Ali?s, uma c?mera que viagem por uma cidade em prodigiosos travellings de sete, oito, ?s vezes dez minutos como se fosse uma sonda espacial. Atualmente ningu?m filma planos seq??ncias com o requinte dele no cinema. Sem exageros, ele ? espetacular.
E aqui temos Harvey Keitel como um cineasta que inventa de procurar enxertos de um filme mudo, talvez o primeiro filmado na Gr?cia, nos escombros da rec?m terminada Guerra dos B?lc?s.
Acompanhamos, portanto, a condi??o de desola??o que um ex?rcito ? capaz de provocar numa sociedade enquanto nosso Ulisses viaja da Gr?cia a Sarajevo, passando pela Alb?nia, Maced?nia, vendo a coisa ficar cada vez pior.
? apavorante e tamb?m uma obra de poesia ?pica, porque no fundo, o que este filme questiona ? qual o sentido da arte num mundo onde tudo parece desmoronar. Ser? poss?vel, de alguma forma, recuperar as ra?zes? Recuperar o olhar original?
Harvey Keitel personifica esse tipo de retorno a si pr?prio. Buscando nas imagens origin?rias dos filmes dos irm?os Manakis um olhar desaparecido, a inoc?ncia arruinada, ele espera revitalizar a sua pr?pria cren?a na humanidade.
H? algo de delirante nesta viagem tamb?m. O diretor usa s?mbolos da ent?o recente queda do imp?rio sovi?tico e funde-os em imagens primitivas de dom?nio e medo. A cabe?a de concreto de L?nin sobrevoando a cidade carrega esse tipo de perplexidade.
Enfim, h? muitos outros sentidos para captar ou para refletir nesta obra cheia de senso de detalhes, porque Angelopoulos consegue algo raro em cinema: justapor compromisso pol?tico e art?stico num mesmo quadro.
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